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Cartas I-V

Primeira Carta
AO FREI BATISTA DE CREMA
31 de maio de 1530
Agradeço muito a Deus, porque Ele me abençoa mais do que eu mereço e me castiga só um pouquinho. Nem sempre me dou conta dessa situação, por causa da minha falta de sensibilidade. Aliás, D. Francisca já me havia falado sobre isso durante aquela viagem que fizemos juntos, a cavalo!
Estou escrevendo estas coisas, porque teria ficado muito feliz se tivesse recebido uma carta sua, mas por causa de doença ou por qualquer outro motivo justo, o senhor ainda não me escreveu! Fique conformado com a vontade de Deus. Eu também quero conformar-me com ela, custe o que custar, mesmo contrariado.
Quanto àquele meu assunto com o Jerônimo, lembrei-me de um detalhe que o portador desta carta - Benedito Romano - lhe explicará pessoalmente: não toco nesse assunto agora, porque fica muito difícil e complicado por escrito. Ele lhe falará pessoalmente.
Caro pai, é claro que eu gostaria que o senhor resolvesse bem este assunto. Mande me alguma notícia a respeito, logo que for possível.
Não culpo a condessa e D. Francisca por não me escreverem: devem estar muito ocupadas; aliás, eu também preciso de desculpas, pois não tenho escrito para elas! Peça-lhes que rezem por mim.
O portador desta carta me falou sobre o senhor, pois ele o conhece de vista. (Recomendo-o insistemente), pois parece ser um homem bom e simples, correto e temente a Deus (Jó 2,3). Ele tem muitas qualidades e não o enganará em coisa alguma. Estou dizendo isso, porque Benedito é obediente e digno de confiança... (falha no texto)... pelo que fala e pelo que faz. O senhor o conhecerá melhor, conversando com ele pessoalmente. Por carta, fica mais difícil. Deus o faça seu... amigo, como espero.
Meus negócios caminham devagar e a minha negligência atrasa tudo ainda mais; mesmo assim, vou em frente.
Mamãe manda lembranças para a condessa, para D. Francisca e, principalmente, para o Senhor. O mesmo fazem o Frei Bono e o filho do Francisco.
Querido pai, não se esqueça de mim e seja meu intercessor junto a Deus, para que Ele me livre das minhas limitações, da minha moleza e do orgulho.
O livro, "A vitória sobre si mesmo", vou ter que escrevê-lo com a vida e não só no papel.
Seu filho em Cristo.
Padre Antônio Maria Zaccaria.


Segunda Carta
AOS COFUNDADORES
4 de janeiro de 1531
Aos meus queridos companheiros, Bartolomeu e Tiago Antônio.
O Deus da paz e de toda graça os guarde e lhes conceda aquela firmeza e decisão em tudo o que fizerem e desejarem, como eu gostaria.
É uma grande verdade que Deus fez o homem instável e querendo sempre mudar, para não ficar parado no mal e, também, para que, conseguindo um bem, não fique parado só nele, mas passe para outro maior e, desse, para outro maior ainda e, assim, crescendo degrau por degrau, chegue à perfeição.
É por isso que se diz que o homem que está no mau caminho, não fica nada satisfeito, isto é, não encontrando prazer no mal, pode continuar nele: e assim, não parando no mal, irá para o bem. Do mesmo modo, não se satisfazendo só com as criaturas, passará para Deus.
Bem! Por enquanto, deixo de lado as várias causas das insatisfações dos homens: o que já escrevi, chega!
Coitados de nós! A firmeza e a decisão que devemos ter para fugir do mal, não as estamos usando para fazer o bem; tanto é verdade, que eu me admiro muitas vezes com a grande falta de firmeza que está em mim e isso vem de longe!
Meus irmãos, eu estou certo de que, se eu meditasse profundamente a respeito dos males que surgem por causa dessa tal falta de firmeza, já os teria arrancado pela raiz há muito tempo!
A falta de firmeza, antes de mais nada, atrapalha o homem: ele não progride, fica como quem está entre dois ímãs: não é atraído nem por um, nem pelo outro; isso quer dizer que ele não faz o bem agora, porque se preocupa com o futuro, nem se prepara concretamente para o futuro, porque perde tempo agora e não acredita no futuro. Querem saber com quem este homem se parece? Com quem tem a pretensão de amar duas coisas opostas. É igual àquele que quer caçar dois coelhos ao mesmo tempo: um foge e o outro escapa!
Enquanto o homem ficar indeciso e cheio de dúvidas, é certo que não vai fazer coisa boa: é a voz da experiência, eu nem preciso falar.
E tem mais: a falta de firmeza deixa o homem instável como as fases da lua. E não acabou não! O homem indeciso está sempre inquieto, nunca se sente satisfeito; mesmo quando está muito alegre, fica triste facilmente, fica irritado e procura facilmente suas compensações.
Na verdade, esta erva daninha vem da falta de luz divina. O Espírito Santo chega logo ao mais íntimo das pessoas, não fica na superfície, mas quem não enxerga o seu interior, não consegue decidir-se de jeito nenhum.
Esta falta de firmeza é resultado da mediocridade, mas também a provoca: de fato, o homem indeciso, na hora de dar conselho a respeito de algum problema, é capaz de falar todas as razões que existem, mas não sabe decidir quais as certas. E então, nunca diz o que deve ser feito e o que deve ser deixado; por isso, se antes a dúvida era pequena, depois se torna grande e, assim, nós nunca nos decidimos. O homem indeciso perde o entusiasmo e se torna medíocre (morno).
Quem quiser apontar as tristes consequências e as causas da falta de firmeza, vai levar mais de um ano; a verdade é que, se o mal fosse só esse, já seria até demais, porque, enquanto o homem fica duvidando, não consegue fazer nada. Para fugir desse defeito, temos duas saídas que o próprio Deus nos indica: a primeira nos ajuda, quando somos obrigados a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa ali na hora: qual a saída? É elevar nossa mente, pedindo o dom do conselho; em outras palavras, quando acontece uma coisa repentina e imprevista, que exige providências rápidas, aí é que elevamos a mente a Deus, pedindo que nos inspire o que temos que fazer: desse modo, sob a inspiração do Espírito Santo, não vamos errar. A segunda é que, tendo tempo e oportunidade para pedirmos orientação, vamos ao nosso orientador espiritual e, conforme o que ele disser, fazemos ou deixamos de fazer algum trabalho ou outra coisa qualquer.
Meus caros amigos, se não tomarmos providências contra essa erva daninha, ela vai provocar em nós um péssimo efeito: a negligência, que é totalmente contrária aos caminhos de Deus. De fato, o homem deve pensar e repensar, moer e remoer na hora de ele fazer alguma coisa importante, mas, depois que pensou e se aconselhou, não pode deixar para agir mais tarde, pois, nos caminhos de Deus precisamos, antes de mais nada, de prontidão e dedicação.
Já dizia o profeta Miquéias: Ó homem, já foi explicado o que Javé exige de você: praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com seu Deus (Mq 6,8). E São Paulo: Quanto ao zelo, não sejam preguiçosos: sejam fervorosos de espírito, servindo ao Senhor (Rm 12,11). E também São Pedro: Por isso mesmo, irmãos, procurem com mais cuidado firmar o chamado que escolheu vocês. Agindo desse modo, nunca tropeçarão (2Pd 1,10). Ele diz: sejam dedicados. Em muitos outros trechos da Sagrada Escritura vamos ver que a prontidão é exigida e exaltada.
Meus amigos, é verdade que dessa falta de firmeza que há no meu comportamento, nasce em mim - não sei se é também por outro motivo, mas é quase sempre por causa da falta de firmeza - uma negligência tão grave e uma demora tão grande na hora de agir, que eu nunca me decido a começar uma coisa ou então, se eu começo, vou me arrastando tanto, que nunca chego ao fim.
Vocês se lembram do exemplo daqueles irmãos que tinham perdido o pai e, que ao ouvirem o conselho de Cristo que deixassem os mortos sepultarem os mortos, imediatamente O seguiram? (Lc 9,60) Pedro, Tiago e João, ao serem chamados, também deixaram tudo de lado e O seguiram (Mt 4,18). E vocês acharão outros exemplos e vão ver que os que amaram Cristo, foram sempre fervorosos e aplicados, nunca preguiçosos. Que vergonha a nossa!
Coragem! Levantem-se de uma vez por todas e juntem-se a mim, porque eu quero que arranquemos juntos esta erva daninha, se é que ela também está em vocês. Mas, se ela não pegou em vocês, venham ajudar-me, pois em mim, ela está plantada no coração. Pelo amor de Deus, ajudem-me de perto a arrancá-la, para eu poder imitar Jesus Cristo, que assumiu uma atitude concreta contra a falta de firmeza, obedecendo até à morte (Fl 2,8) e correu, para não se omitir, ao encontro da vergonha da cruz, não ligando para o que ia sofrer (Hb 12,2).
E, se agora vocês não têm outros meios para me ajudar, venham em meu socorro, pelo menos com suas orações.
Meus amigos, para quem eu estou escrevendo? Ora, para os que agem de verdade e não para os que ficam só falando, como eu. Mesmo que eu seja assim, foi a consideração que eu tenho por vocês, que me levou a escrever-lhes estas poucas linhas.
Vou dizer mais uma coisa: tenho receio que vocês dois demorem demais para acabar de imprimir o livro. E você, Bartolomeu, já resolveu o caso do João Jerônimo? Já faz muitos dias e vocês não me enviaram nem a informação que eu pedi e nem me disseram uma só palavra a respeito do que já conseguiram fazer até agora. Eu até desculpo vocês, mas olhem bem para a consciência: vocês merecem desculpas, ou puxão de orelhas?
Coragem, irmãos! Se até agora houve alguma falta de firmeza em nós, vamos jogá-la fora junto com a negligência e corramos como loucos não só para Deus, mas também para o próximo, pois é o próximo que recebe tudo aquilo que não podemos dar a Deus, porque Ele não precisa de nossos bens.
Lembranças ao nosso amigo comum, o Pe. João. Frei Bono pede a ele e a vocês dois que rezem por ele e por mim.
Seu irmão em Cristo.
Pe. Antônio Maria Zaccaria.


Terceira Carta
A CARLO MAGNI
28 de julho de 1531
Respondo sua carta de 23 do corrente.
Prezado amigo e irmão Carlos
Eu tenho rezado sempre por você diante do Cristo Crucificado, porque preciso aprender primeiro o que eu quero ensinar-lhe. Se você não tivesse insistido com tanta firmeza, eu nem teria começado esta carta. Eu não sei tudo, mas mesmo assim, vou tentar ser bem claro!
Bem, meu irmão em Cristo, já que suas atividades são muitas, são difíceis e ocupam tanto o seu tempo, você precisa encontrar um jeito de viver de acordo com elas. Por isso, eu desejo propor-lhe as três coisas seguintes, para serem vividas de acordo com suas possibilidades.
Primeira coisa: faça suas orações pela manhã, à tarde, em qualquer hora, preparando-se antes, ou de acordo com a ocasião; de todas as maneiras: deitado na cama, ajoelhado, sentado, ou de qualquer outro jeito que você quiser, principalmente antes de começar as atividades do dia; que essas orações não tenham formas já estabelecidas, e durem um pequeno espaço de tempo, ou longo, conforme Deus permitir.
Rezando, você procure dialogar com Cristo a respeito de tudo o que acontecer, até sobre as dúvidas e dificuldades, especialmente nos momentos das maiores incertezas, dizendo para Ele o que está a favor e o que atrapalha as suas decisões. Faça isso da maneira mais breve possível, dizendo-lhe a decisão que parece ser a melhor ou, então, perguntando ao Cristo o que Ele acha a respeito. Certamente que Ele não lhe negará sua opinião, se você insistir; aliás, eu lhe garanto que Ele atenderá os seus pedidos.
De fato, eu não acredito que possa existir melhor conhecedor das leis dos homens, do que Aquele que fez as próprias leis, ainda mais se for O que tem em Si todas as regras e todas as normas. E, se Ele sabe desmascarar e esvaziar os pensamentos dos demônios, saberá desmascarar ainda mais os raciocínios dos homens!
Quem não acredita nisso, não acredita também que Deus tem carinho por nós e que não deixa cair um só cabelo de nossa cabeça (Lc.21,18) e acredita menos ainda que Ele seja tão sábio, que torna todos os sábios desse mundo, loucos e ignorantes (1Cor.1,19-25). E se Deus faz isso com quem se dirige a Ele para ficar livre das confusões dos homens de hoje, que parecem ter sido feitas de propósito para afastar o homem de Deus, imagina se Ele não vai resolver problemas menores! E, por assim dizer, se até na distração, o homem se une a Deus, quanto mais nas outras situações e nos momentos de recolhimento?
Experimente, então, meu caro amigo, dialogar familiarmente com o Cristo Crucificado, por um espaço de tempo curto ou longo, conforme a oportunidade, como você faria comigo - e converse com Ele sobre suas coisas e também Lhe peça conselhos, sejam quais forem os assuntos: pessoais, materiais, seus ou dos outros.
Se você usar este método, eu lhe garanto que conseguirá grande progresso e sentirá nascer em si maior união com o Cristo e maior amor por Ele. Não digo mais nada, pois só a experiência será suficiente.
A segunda coisa que o ajudará a viver o que eu disse antes e trará para você mais e mais graças de Deus, é a frequente elevação da mente (contemplação). Caro amigo, a elevação da mente é necessária, pois onde há maior perigo e se trata de coisas mais importantes, é aí mesmo que o cuidado deve ser maior e a atenção redobrada.
O homem, por natureza, acha difícil ficar concentrado numa coisa só e, para o homem que tem o mau hábito de ficar distraído, unir-se a Deus é mais difícil ainda. E é difícil demais ser obrigado a ocupar-se de atividades que nos separam de Deus e não ficar separado Dele de verdade: é a mesma coisa que entrar na chuva sem se molhar.
Isso é claro! Mas o que parece impossível, se torna muito fácil com a ajuda de Deus, desde que não neguemos a nossa colaboração e tenhamos aquele cuidado e esforço pessoal, que são dons de Deus para nós.
Portanto, se nós quisermos estar com Deus e, ao mesmo tempo, agir, falar, pensar, ler ou resolver problemas, o jeito é elevar, muitas vezes, os olhos de nossa mente a Deus, por pouco ou por muito tempo, tal como faríamos com um nosso amigo. Não podendo parar para conversar com ele, por causa das ocupações importantes do dia-a-dia, como por exemplo, conferir uma mercadoria para ser despachada bem naquela hora, logo de início é só dizer para Ele: "Você, meu amigo, me perdoa se não posso dar-lhe atenção agora? Eu tenho muita coisa a fazer, mas logo que eu acabar, a gente conversa! Você pode esperar?" Ou então, até quando estivermos escrevendo, de vez em quando é só levantar os olhos, fixando-os Nele, para falar sobre o que estamos fazendo, ou para dizer: já vai! Ou então, vamos usando algum recurso que, embora não nos permita falar com o amigo, serve para entretê-lo. Isso não nos afasta do nosso trabalho, que nem será prejudicado pela presença do amigo.
É desse jeito que você deverá fazer: praticamente não haverá prejuízo para seus estudos e ocupações. Antes de começar qualquer coisa, diga espontaneamente ao Cristo umas poucas palavras e, ao longo do dia de trabalho, eleve sua mente a Deus frequentemente. Isso será muito bom e você não vai perder nada se comportando assim.
Preocupe-se, principalmente no começo do seu trabalho ou do que você faz para os outros, aquele de todos os dias ou os imprevistos, atendendo diretamente os outros, ou nas suas atividades pessoais, dedicar tudo a Deus com aquela pequena oração que Ele lhe inspirar, ou com palavras de acordo com seus pensamentos e desejos e de qualquer outro jeito; e assim agindo, pensando ou executando suas atividades, eleve freqüentemente seu pensamento a Deus. Se, porém, as coisas se prolongarem, procure interrompê-las por breves momentos, como por exemplo, pelo espaço de uma Ave Maria ou como lhe agradar e faça a oração que Deus lhe inspirar. E isso, você poderá repetir várias vezes, conforme a demora das coisas.
Seguindo este método, você se acostumará a fazer suas orações com facilidade, sem prejudicar seus afazeres nem sua saúde e rezará sempre, de modo que bebendo, comendo, trabalhando, falando, estudando, escrevendo... (1Cor 10,31), você estará rezando e o trabalho, não impedirá a elevação da mente e a ocupação espiritual, nem essas atrapalharão o seu trabalho. Agindo de outra maneira, você será um homem bom, não um bom cristão, tal como Cristo quer e como o chamou para ser. Isso você saberá se refletir bem sobre o modo que Ele usou para conduzi-lo a Si. Aviso-o sobre isso e lhe indico o modo de ser um bom Cristão, se for isso que você quer - eu acho que sim - para que mais tarde não se arrependa, o que seria de grande tristeza para mim.
Caríssimo, se as minhas palavras têm algum valor para você, eu o exorto peço-lhe e o obrigo em Cristo e por Cristo: abra os olhos e preste atenção no que acabo de escrever, leia com os fatos e não somente com os olhos; fazendo assim, eu lhe garanto que você se tornará outra pessoa, bem diferente do que é agora, do jeito que deve ser, carregando o peso que Deus colocou e ainda vai colocar, de muitos modos, sobre seus ombros. Agindo de outra maneira, você não cumprirá os deveres que tem perante Deus e o próximo e, por isso, não terá desculpa e será punido como transgressor.
Atenção! Procure compreender e viver bem o que lhe expliquei; mas, colocando em prática o primeiro conselho, obedeça ao terceiro, que vem a seguir, sem o qual, todo o seu esforço terá pouco valor e importância diante de Cristo.
Ora, a terceira coisa é a seguinte: na meditação, na oração, nos pensamentos, esforce-se para conhecer os seus principais defeitos e, acima de todos, aquele defeito que, como comandante geral, chefia os outros que existem em você. Querendo acabar com ele, esforce-se também para acabar com os outros que aparecerem, do mesmo jeito que faz quem deseja matar o comandante do exército inimigo, que fica protegido no meio de suas tropas: tendo os olhos sempre voltados para o que é o mais importante, abra caminho até ele, matando todos os que estiverem na frente. É assim que você deve fazer no combate aos seus defeitos.
Se você me perguntar qual o maior defeito que eu percebo na sua pessoa, eu lhe digo - com muita humildade - que, apesar de você dar muita atenção à sensualidade, esse não é seu defeito principal e sim a ira e a perda da tranquilidade, que vem da soberba, porque você sabe e conhece muita coisa, já que estudou e tem competência, por causa de suas qualidades e pela prática da vida. De fato, pensando bem, é isso que faz você perder o controle, o que o perturba e o leva a fazer gestos obscenos e a falar palavrões. A soberba produz em você outros frutos ruins e efeitos negativos.
Mostrei-lhe o mal que é a mãe de todos os seus defeitos; acabe com ele: desse modo, não fará nascer filhos em você. Descubra sozinho os remédios e o modo, para vencer este mal. Se não conseguir encontrá-lo, quem sabe, da próxima vez, quando eu lhe escrever ou falar pessoalmente. Se, no entanto, não for esse seu defeito principal (eu acho que sim), procure descobrir qual é e acabe com ele.
Observando tudo isso, você chegará à intimidade com o Cristo Crucificado. Mas, comportando-se de modo diferente, você ficará bem longe: e é isso que eu não quero ver em você, porque o considero muito como irmão em Cristo. Amém. Já comprei e vou mandar para você, material de impressão bom e novo. É baratinho! Vou mandar para aí alguns livros de espiritualidade melhores do que os que já existem. E olha que eu mando mesmo! Convença os amigos a comprá-los, pois são muito úteis para quem quer progredir nesta vida.
Quanto ao Frei Bono, nós o perdemos. Ele está correndo de mim, ou parece que está fugindo, por causa de suas obrigações. Fico três ou quatro dias sem o ver e mesmo quando está aqui, mal consigo falar com ele. Parece que ele tem medo que o convide para ficar conosco. Gostei da carta que você escreveu para ele, mas está precisando de um empurrão maior. Procure insistir.
Vou escrever para os amigos.
Lembranças a todos, um por um.
Muitas recomendações ao querido Pe. Primicério.
Seu filho e irmão em Cristo.
Pe. Antônio Maria Zaccaria.


Quarta carta
AO JOÃO TIAGO PICCININI
16 de janeiro de 1534
Querido amigo, João Tiago.
Saudações
Esta carta é só para cumprimentar você e dizer que, em nome do nosso pai espiritual, Frei Batista, nem você, nem ninguém se preocupe com as dificuldades que acontecem ou que ainda vão acontecer, porque quem carrega o peso é ele e não nós.
É verdade que o Frei Batista não gosta das atitudes daqueles que ele orienta e que ficam fazendo papel de comerciantes, ou não querem caminhar sozinhos. Por isso vamos ficar calados: o próprio Cristo Crucificado vai fazer o resto, ou fará pela intercessão do Frei Batista. Isso não parece muito difícil, porque, para Deus, tudo é possível e nós sabemos, pela experiência de todos os dias, que é assim mesmo.
Pessoalmente, você compreenderá tudo bem depressa, mesmo que não seja nem da sua conta nem da minha, conhecer os resultados da intervenção de Cristo. Pronto! É só andar pelo caminho da cruz, que nos ensina a distinguir entre qualidade e defeito, ou se devemos ou não fazer uma coisa. Ah! Quer saber? Chega de conversa e mãos à obra!
Estou certo de que você não se preocupa com essas coisas e faz bem! Mas o que estou escrevendo é para você saber como estamos por aqui; e não falo mais nada sobre isso. Essas cartas são só para você! Guarde-as bem e não as mostre para ninguém, seja quem for. Se por acaso o doutor Jerônimo lhe entregar alguma carta, coloque-a dentro de uma das suas e remeta-as. Entregue só a pessoas de confiança, que com certeza vão entregá-las; caso contrário, guarde-as com você, até que apareça algum portador confiável.
Lembranças para a condessa, para Ângela, Párcia e sua irmã, Catarina e às outras. Também aos senhores Tiago Antônio e Francisco Grippa, da parte de todos nós.
Seu irmão em Cristo.
Pe. Antônio Maria Zaccaria.


Quinta Carta
ÀS  ANGÉLICAS (I)
26 de maio de 1537
Às irmãs Angélicas
Minhas queridas filhas, eu considero vocês o meu único motivo de alegria e consolo, só de pensar que brevemente estarei de volta à convivência com vocês. Minhas amáveis filhas, estou orgulhoso de vocês e... sei que um dia serei invejado por São Paulo, porque vocês, tal qual as filhas do Apóstolo, desejam ardentemente sofrer por Cristo, renunciam a tudo e a si mesmas, procuram levar o próximo ao verdadeiro espírito vivo e ao Cristo Crucificado; e, mais ainda, porque vocês - não uma só e sim todas - deixando de lado toda estima própria e consolação interior (as filhas de Paulo gostavam disso), tornaram-se apóstolas, não só para acabar com a idolatria e outros defeitos grandes e graves das pessoas, mas também para destruir esta peste, a maior inimiga de Jesus Crucificado, que predomina nos nossos dias: a Dona Tibieza(mediocridade).
Minhas queridas filhas, desfraldem suas bandeiras, pois dentro em breve o crucificado as enviará para anunciarem, por toda parte, a vivacidade espiritual e o Espírito que dá vida a tudo.
Graças sem fim sejam dadas ao meu Senhor, por filhas tão generosas que Ele me deu. Minhas filhas, enquanto isso, eu peço a vocês que procurem trazer-me alegria, de tal modo que, quando eu chegar aí, consiga ver o progresso de vocês, cada uma se esforçando mais que a outra.
Que eu encontre: gente firme, perseverante e fervorosa nas práticas espirituais, a tal ponto de não passar facilmente do fervor ao abatimento; pelo contrário, que conserve um fervor constante e intenso, que se renove pelos compromissos do batismo e mostre sempre novo vigor; gente que conseguiu uma fé tão grande, que tudo o que é muito difícil, pareça muito fácil, mas certas de que esta confiança nunca será abalada por presunção ou vanglória; gente que procure fazer com perfeição os trabalhos mais humildes, ocupando-se deles com todo capricho e cuidado, não desanimando, nem achando que é rebaixar-se por causa da pouca importância desses trabalhos; gente que se esqueça totalmente de si, para olhar só para o próximo; que não veja seu próprio interesse e não pense em si, mas consiga o bem dos outros, comportando-se de maneira discreta e madura na ação; gente que venceu suas tristezas bobas, sua sensibilidade à flor da pele, o medo de não progredir na vida religiosa, o desânimo ao querer vencer a si mesma, a cabeça dura e a teimosia, a distração e outras coisas mais.
Eu desejo ver que vocês receberam de verdade Aquele que ensina a justiça, a santidade, a perfeição: o Espírito Santo Paráclito. Ele não vai deixar vocês errarem, mas lhes ensinará todas das coisas e não as deixará esmorecer, ficando sempre com vocês e não as deixará carentes, dando-lhes todo o necessário, de modo especial, uma serenidade permanente, mesmo não as livrando das humilhações da cruz. Ele as ajudará a viverem uma vida de acordo com a de Cristo, imitando os grandes santos.
Lembrem-se do seguinte: São Paulo e Frei Batista, nossos inspiradores santos e benditos, nos mostraram tamanha grandeza e abertura de espírito para Jesus Crucificado, tamanha coragem diante das penas e provações da vida e tamanho desejo de ganhar o próximo e de conduzi-lo à perfeição total que, se nós não tivermos um desejo infinito dessas mesmas coisas, não seremos reconhecidos como seus filhos legítimos e sim degenerados.
Tenho certeza que não é essa a intenção de vocês, principalmente por causa da grande vontade que vocês têm de amar Cristo e de agradar a mim, um pai que tanto lhes quer bem, que sempre pensa em vocês e não vê a hora de voltar, só para estar com vocês.
Confio a vida de cada uma ao Cristo Crucificado, por meio de seus santos (o apóstolo Paulo e Frei Batista). Eles cuidarão sempre de vocês, por causa do amor que têm por todas e por causa das minhas orações: eu rezo fielmente a Cristo, oferecendo vocês a Ele a todo o instante. E lhes peço que digam a eles que me façam alegre com o crescimento espiritual de todos nós. Que o Cristo derrame sobre todas vocês as bênçãos mais generosas. Amém.
Minha mãe, Cornélia e o Batista mandam-lhes lembranças e, de modo especial, Isabel e Judite. Jesus Cristo as abençoe. Um abraço para a Julieta. Ah! Quero lembrai-lhes: correspondam facilmente às grande dedicação da Madre Paula é alegrem nosso pai comum,... o padre superior, Tiago Antônio Morigia.
Em Cristo.
Pe. Antônio Maria Zaccaria.