Nuestra Agenda: Dia 01/11 - Missa pelos Defuntos, Padres y Hermano(parentes, amigos e Religiosos de la Congreción)--- Dia 07/11 - Missa de envio das Imagens de Nossa senhora e Mês de Maria em Chile--- Dia 11/11 - Aniversario do Sem.Christian Virgílio--- Dia 08/11 - Missa e Benção da Gruta de Lurdes, na Comunidad San Pablo--- Dias 19/11 - Nossa Senhora da Divina Providencia- Rainha e Padroeira dos Padres Y Irmãos Barnabitas( PROFISSÃO PERPETUA DO RELIGIOSO FRANCISCO JAVIER-Crsp Y MINISTÉRIOS DE NELSON MAIA-Crsp E MAURO HENRIQUE -Crsp --- Dia 20/11 - Adoração com os Leigos de San Pablo --- Dia 22/11 - Aniversario do Pe.Paulo Tallep-Crsp

Cartas VI-X

Sexta Carta
AO PADRE BARTOLOMEU FERRARI
8 de outubro de 1538
Ao meu irmão em Cristo, Pe. Bartolomeu Ferrari
Meus santos filhos em Cristo, de que vocês estão duvidando? Ainda não perceberam que, nesta missão, nunca lhes faltaram recursos para dar aos que estão precisando? Não existe nada de mais certo e que mais faça aumentar a segurança, do que a experiência. As pessoas que são confiadas a vocês, mesmo que os amem, não têm as riquezas espirituais nem de Paulo, nem de Madalena; mas esperam que Aquele, que enriqueceu os dois, ajude a todos, orientados por vocês, vendo a fé que vocês têm e a deles também.
Tenham a certeza que o Cristo Crucificado tomará a iniciativa antes que vocês falem e estará ao seu lado em todas as palavras e boas intenções.
Paulo dizia (2Cor.10,13) que chegaria até os limites que o Cristo marcasse. Ora, o limite que Jesus Crucificado lhes prometeu é que as forças de vocês irão penetrar os corações até o mais profundo (Hb.4,12).
Será que vocês não vêem que Ele lhes abriu as portas com suas próprias mãos? Portanto, quem os impedirá de penetrar intimamente nesses corações, de mexer com eles e de trabalhá-los, até que fiquem enriquecidos com verdadeiros valores? Ora, ninguém! Seja quem for, nem o demônio, nem criatura alguma (Rm.8,39).
Não se deixem desanimar pelas dificuldades que aparecerem na hora de falar ou de fazer qualquer outra coisa, porque, da mesma maneira que ir à escola, acaba com a ignorância ou tal como o uso do ferro o torna mais brilhante, assim também acontece na prática da vida cristã. Paulo não foi, no começo, o que foi mais tarde e nem os outros! Fiquem, então, firmes e certos de que, sobre o alicerce de Paulo, vocês não construirão prédios de palha ou de lenha e sim de ouro e pedras preciosas (1.Cor.3,12) e o céu, com seus tesouros, se abrirá para vocês e seus irmãos (At.7,55).
Caríssimos, recebam antecipadamente os meus parabéns por causa da perfeição à qual vocês vão chegar, levados pelos seus bons sentimentos.
Se vocês estivessem aqui, nada poderia impedir que eu os abraçasse e fosse carinhoso com todos. Mas, Jesus, faça isso em meu lugar!
Filho caríssimo (Bartolomeu), nós carregamos juntos o peso da missão que você está carregando agora; creio que você já percebeu isso. Nós nem poderíamos deixar de ficar juntos em todos os momentos, pois estamos aí sentindo tudo junto com você. Por isso, não tenha medo de errar e a mais ampla liberdade que lhe demos é a garantia de que suas coisas terão um final feliz. Querida priora, não perca tempo com "choradeiras". Mesmo que você se considere como um demônio, ou como que jogada na lama e até mesmo num monte de lixo, não ligue muito pra isso, mas faça tudo o que puder para dar atenção às pessoas que lhe foram confiadas e que Jesus Crucificado lhe confiar daqui pra frente. Você, que traz em si a imagem Daquele que é a nossa vida e se alimenta da sua carne, lembre-se de que deve ser generosa e que Jesus Crucificado sempre foi generoso com todos vocês. Justamente por causa disso, como é que nós, que os amamos como a nós mesmos poderíamos deixar de ajudá-los?
E você, Francisquinha, se você reconhece que o mal se transformou em bem na sua vida, não pelas suas forças, mas por causa da atenção dos que procuram trazer-lhe vida em Cristo, reconheça também a obrigação que você tem de retribuir a eles, ou seja, que se sintam felizes por todos os cansaços que enfrentaram por sua causa. Você vai ganhar com isso e as outras também. Digo o mesmo para todos.
Não precisamos recomendar as Silvestrinas, porque já estão mais do que recomendadas. Vocês são responsáveis por elas. Digam-lhes, por favor, quando desejarem e quando chegar a hora, uma a uma ou a todas juntas, em nosso nome, o que vocês quiserem. E se vocês acharem bom, escrevam, em nosso nome, aos de fora, porque vocês conhecem melhor do que nós o de que eles precisam. Aliás, as responsabilidades de outras tarefas tomam tanto o nosso tempo, que não damos conta de escrever para quem deveríamos e para aqueles com os quais... temos obrigações. Bem que eu gostaria de escrever agora para a querida Paulinha, mas não tenho condição. Como escreveria com muito prazer para a sempre fiel D. Lucrécia, mas não dá. Digam a ela: desejaria que ela ficasse parecida comigo: quer dizer, que não cuide só do seu progresso espiritual - o que seria muito pouco - mas que se comprometa para que as outras aproveitem do mesmo jeito que ela. Digam à Coordenadora que me lembro dela e da sua irmã. Digam ainda à minha querida Faustina que não me esqueço dela - nem poderia - e que ela aguarde o cumprimento da minha promessa. Além do mais, digam a todas que estamos com elas e que Jesus Crucificado nos obriga a dedicar-lhes todo o nosso afeto, porque elas são muito generosas!
Aos prezados Frei Bono e Pe. Castellino, muitas lembranças e abraços da minha parte. Tenho vontade de escrever para eles, mas como não posso, que me desculpem. Digam ao Pe. Superior, que ele está com os seus irmãos e que a tentação para que se afaste deles é muito forte! O motivo é que o demônio tem medo de que aconteça algo desagradável, porque conhece, por experiência, que a simplicidade do Pe. Superior sempre deu bons resultados, pois ele nunca lançou as redes sem apanhar aquela quantidade de peixes bons e grandes!
Gostaria de ver o Pe. Castellino; queria que ele não se ausentasse mais, por que estou pensando em fechar o negócio da igreja e da casa de São Barnabé e quero que ele esteja presente na ocasião da bênção da tomada de posse. Eu nunca faria negócio tão importante sem a presença dele. Quero que você dê a ele toda a autoridade para que lá esteja em seu lugar,... na hora da conclusão do negócio. Sei que a ausência dele lhe trará grande transtorno, mas como você sempre colocou o bem dos outros acima de sua satisfação pessoal, peço-lhe que desista de tê-lo aí e que o mande para cá. Peça a ele que reze por mim e diga-lhe, em meu nome, que venha logo, para, juntos tratarmos desse negócio.
Aos prezados Sr. Ludovico, Sr. Antônio, ao sempre fiel Franceschi e ao nosso anfitrião, Mestre André e aos outros nossos amigos, minhas recomendações. Lembranças também para o Conde Brumoro, para o Júlio, para o barbeiro e sua esposa, para o Pe. Alexandre, Pe. Luiz e Pe. Antônio. Gostaria que todos ficassem sabendo da bondade do Frei Bono, pois assim ficarei certo de que as Orações das Quarenta Horas e outras boas obras terão crescimento. Digam à Madalena que faça de tudo para conhecê-lo. Lembranças para ela também; se a D. Joana não ficar mais aí, não deixem de me avisar. Quanto ao Jerônimo, não sei o que dizer. Vamos deixar as coisas acontecerem.
Caríssimos amigos, dêem lembranças a todos de quem me esqueci nesta carta. Ando muito cansado. Cristo os abençoe na intimidade e lhes conceda seu próprio Espírito.
Se a D. Torelli ainda não deu atenção a seu irmão, não se preocupe, porque hoje ou amanhã eu irei a Guastalla e cuidarei pessoalmente do assunto junto com a Paula Antônia, que já escreveu para ela a esse respeito. Cristo faça todos vocês serem santos!
Seus pais em Cristo.
Padre Antônio Maria e Angélica Paula Antônia Negri.


Sétima Carta
AOS CONFRADES
3 de novembro de 1538
Aos prezados Sr. Tiago Antônio Morigia
e Batista Soresina e a todos os outros.
Queridos filhos em Cristo.
Parece que o demônio está me tentando e me levando a julgar mal as atitudes de vocês, insinuando que, pelo fato de nenhum de nós estar aí, há em nossa casa uma grande confusão, além do mal que ele jogou e continua jogando nos seus corações, de modo que tudo está em desordem. Claro que eu não acredito que isso seja verdade, mas vou dizer o que acho. Não fiquem pensando que eu escrevo para dar broncas e para ser severo. Mesmo que fosse assim, seria só por causa da grande consideração que tenho por vocês. Mas eu estou preocupado!
Digo a vocês, por isso, que as minhas suspeitas me levam a pensar que o demônio está dizendo a verdade, porque, de fato, parece que há alguns de vocês que não podem ou não querem entender as intenções dos seus superiores. Fiquem sabendo, queridos filhos, que é coisa muito boa ter regras de vida por escrito ou receber ordens escritas dos superiores. Mas estas coisas não valeriam nada se não estivessem gravadas em nossos corações. E, se, por exemplo, houvesse alguém que, mesmo não sendo dos nossos, quisesse conhecer todo nosso jeito de viver, tendo sempre presente o que nós queremos, esse homem seria um nosso discípulo muito mais fiel e muito mais autêntico do que aquele que tivesse as nossas ordens escritas só no papel e não no coração, mesmo tendo o orgulho de ser chamado de nosso discípulo.
Não fiquem pensando que esquecer ou relaxar as ordens dos nossos superiores seja uma coisa normal. Isso seria uma ducha fria nos nossos primeiros ideais. Ou até mesmo uma certeza para os superiores de que, se eles morrerem ou ficarem ausentes, nós logo abandonaríamos os seus exemplos. Por acaso os discípulos que são mais fervorosos do que os seus mestres destroem o que eles plantaram? Pelo contrário, em vez de destruir, não estariam acrescentando mais perfeição e firmeza às suas realizações?
Ainda bem que Deus fechou os nossos olhos, para que vocês enxerguem melhor e possam tornar-se filhos legítimos, já que seus pais os geraram bastardos. Se seus olhos forem cegos e adúlteros, imagina só como será o resto do corpo! Não digo isso para os envergonhar, mas porque desejaria que vocês tratassem os seus guias com a mesma fidelidade com que eles os tratam.
Será que a firmeza de suas convicções íntimas não deveria sutentá-los sem precisar de ordens escritas? Se vocês forem generosos, aprenderão a se governar por si mesmos, sem leis exteriores, mas com elas nos corações. Desse modo, cumprirão não a palavra exterior, mas a própria intenção interior. É assim que convém agir, se não quiserem obedecer como empregados e sim como filhos.
Sendo assim, tendo quem os governe, deixar-se-ão governar. Se for um anjo a governar vocês, não se preocuparão com quem os governa, seja este ou aquele e, quando não tiverem ninguém para os governar, a sua própria consciência os governará. E, tendo governo ou não, vocês conservarão sempre a união como os seus chefes e não provocarão mais tantas divisões.
No futuro, vocês não considerarão rigorosas as palavras e o comportamento dos seus superiores, mas em todas as ocasiões, saberão governar-se, ora mais, ora menos rigorosamente, mas sempre conforme as intenções deles.
E vão evitar também imitações bobas dos modos e das falas dos outros, porque se fica bem a uma criança dizer mãe ou mãezinha, papai ou papaizinho, isso já não seria próprio de um homem adulto. O mesmo se diga para as coisas espirituais.
Então, se alguém faz uma tarefa que já é de outro, não fique com ciúmes. Afinal, o que estamos querendo? Por acaso queremos ser patrões ou senhores? Ou queremos ajudar-nos uns aos outros no caminho da perfeição e da humildade? E se é assim - como de fato é - por que um destrói o que o outro faz?
Pelo amor de Deus, que as palavras lisonjeiras não os amoleçam e os elogios não lhes subam à cabeça, mas nos conformemos todos com o Cristo.
Ninguém transgrida as ordens e, se alguém as transgredir, o outro as observe melhor ainda. Na falta de quem mande, cada um seja seu próprio mestre e se supere.
Comprometam-se com atitudes de humildade e de simplicidade e não procurem a própria vontade, mas a de Cristo em vocês, pois assim se sentirão mais facilmente pertencentes a Ele (Rm.13,14). Desse modo, vocês fugirão da rotina e satisfarão o desejo de Frei Batista (nosso santo pai) que, como vocês se lembram, queria que fôssemos plantas e colunas de renovação do fervor cristão (Ef.3,4 / 4,23).
Se vocês soubessem quantas promessas de renovação foram feitas a tantos santos e santas! E todas elas vão acontecer nos filhos e filhas de nosso pai, a não ser que Cristo quisesse enganá-los, o que Ele nunca vai fazer, pois é fiel cumpridor de sua Palavra.
Ó querido pai, você suou e sofreu e nós recebemos os frutos, você carregou a cruz e nós descansamos demais! Pois agora, nós faremos crescer os seus frutos e os nossos também, aceitando e carregando a cruz.
Filhos e plantas de Paulo, alarguem os seus corações (2Cor.6,13), pois quem os plantou e ainda planta, tem o coração maior e mais aberto que o mar e não sejam inferiores à vocação para a qual foram chamados (Ef.4,1). Se vocês quiserem, serão, desde já herdeiros e filhos legítimos do nosso santo pai e dos grandes santos e o Cristo Crucificado estenderá suas mãos sobre vocês.
Não minto para vocês e não há ninguém de nós que queira mentir, por isso, procurem dar-me grande satisfação e lembrem-se de que, estando aqui ou fora, vocês têm a obrigação de dar-me satisfação. Chega! Que o próprio Cristo escreva... a nossa saudação em seus corações.
Seus pais e guias em Cristo.
Padre Antônio Maria e Angélica Paula Antônia Negri.


Oitava Carta
AO PADRE BATISTA SORESINA (I)
(s. d.)
Ao querido filho em Cristo, Sr. Batista
J+C
Por que você está tão tímido e medroso? Ainda não sabe que não vamos abandoná-lo? Você já deveria saber, por experiência, da ajuda que lhe damos sempre. Temos rezado ao Cristo Crucificado, pedindo que não nos conceda coisa alguma que não esteja de acordo com os desejos e as intenções que você tem.
Não vamos escrever mais nada, fique certo de que agiremos assim.
Cristo o abençoe,
Reze por nós.
Seu Pai em Cristo.
Pe. Antônio Maria.
Sua mãe Angélica Paula Antônia Negri.


Nona Carta
ÀS ANGELICAS (II)
10 de junho de 1539
Prezada Angélica, Paula Antônia Minha querida filha em Cristo e todas as outras. Amanhã é a festa do companheiro do apóstolo São Paulo, São Barnabé. Não posso, portanto, deixar de agir com vocês do mesmo modo que ele agiu em relação a Paulo, que desejaria ser pessoalmente e de maneira transparente um exemplo vivo do Cristo Crucificado.
Você sabe que Paulo, quando foi pela primeira vez a Jerusalém, logo depois da sua conversão, procurava um jeito para inserir-se entre os outros cristãos e de entrosar-se com eles, para ser reconhecido por todos, como cristão. Mas, eles, tendo medo de que Paulo ainda fosse o que era antes, não tinham coragem de andar com ele. Barnabé, então, pegou-o pela mão e o levou aos Apóstolos e disse: Eis aquele que era... etc. e depois Cristo lhe apareceu... etc. e fez e disse... etc.(At.9,26-27) e assim, na presença deles, tornou-o conhecido de todos. Enquanto Paulo permanecia quase escondido, muito satisfeito da vida, sem medo de ser dominado pelo orgulho, Barnabé o apresentou a todos os cristãos como uma coluna e como aquele que quase tinha chegado a ser o primeiro entre os Apóstolos.
Ora, minha irmã, se me permite, desejaria ter com você a mesma liberdade que têm os grandes santos e também manifestar-lhe que aquilo que, por causa da grande perfeição que eles têm, é neles uma experiência e um sinal certo de sua santidade madura, seria para nós, ocasião de clara e verdadeira ruína ou então, um sinal evidente de não termos ainda abandonado os nossos hábitos antigos e envelhecidos. Você se lembra do que se diz daquele santo citado por São João Clímaco, que, tendo certeza de ter superado a gula, ofereceu ao demônio um cacho de uvas, para ver se ele era capaz de tentá-lo com isso? A mesma coisa: uma pessoa que quer saber se não existe mais uma paixão em si e nos outros ou, até que ponto está controlada: ela procura reavivá-la com palavras e atitudes ou de qualquer outro modo, enquanto, interna e externamente vai acompanhando tudo, para ver no que vai dar e, daí, vai tendo uma visão clara da sua situação interior e também dos outros.
Não vou falar das coisas que só você pode compreender, mas das que todas as Angélicas compreendem, deixando por sua conta meditar sobre o resto.
Barnabé diz: Saulo, ou seja, o rosto do nosso primeiro homem e a imagem das nossas primeiras inclinações: as nossas paixões. Olha só a conversa fiada dessa pessoa! Fala mais que um papagaio! Nunca está na oração com as outras, está sempre ocupada com as coisas de fora, fica na cama dormindo à toa! Será que não é esse o rosto de Saulo ou, em outras palavras, a figura do nosso primeiro homem velho?
Mas isso não é nada! O fato de exigir ser bem servida, de querer luxo no quarto, de falar sempre repreendendo os outros, de nunca dizer uma palavra boa aos outros, de não mostrar estima para ninguém: o que seria isso, a não ser as características dos nossos costumes antigos? E mais ainda: o fato de não estar satisfeita nunca, sempre aberta para as tentações, tendo idéias duvidosas e pouco claras: isso prova que ela ainda é a mesma que era antes de entrar na vida religiosa ou, pelo menos, que é imperfeita e que mudou muito pouco.
O fato de ter um estômago que só quer comida fina e sofisticada mostra que a gula ainda está forte. O fato de não saber esperar nem um pouco sem mostrar impaciência, de não poder ficar de joelhos sem ter um banco onde se apoiar, de reagir diante de qualquer coisa de cara fechada, o que significa isso, senão uma personalidade cheia de não-me-toques?
Vejam se isso fica bem: mal uma pessoa se mexe e já está cansada, mal se senta para conversar com os outros aumenta esta dor. Isso pode ser tudo, menos uma perfeição amadurecida! Essas situações e outras parecidas são o Saulo, isto é, mostram a figura do homem imperfeito.
Mas, não critiquem - diz Barnabé - pois fiquem sabendo que a este ou esta, que parecem ter estes defeitos, o Cristo apareceu, etc... Fiquem sabendo, minhas filhas, que na irmã Paula Antônia, encontrarão uma maneira interna e externa de ser santa. Se quiserem conhecer bem toda a sua vida, ou se eu revelar quem é esta pobre mulher, tenho quase certeza que ela ficará envergonhada e abaixará a cabeça para não passar pela santa que é.
De fato, reparem que ela nunca lhes fala, sem que acenda em vocês o fervor ou sem que o faça renascer; reparem que até quando parece falar distraída, na realidade, ela repara tudo em vocês e as trabalha interiormente; reparem que ela nunca para por motivo de descanso, mas está sempre adquirindo alguma coisa nova para si e para os outros; reparem que ela nunca vai deitar sem dar-lhes um exemplo com palavras ou com o silêncio; reparem se, alguma vez, foi tão distraída a ponto de não perceber tudo o que vocês estão dizendo ou de não provocar bons exemplos em vocês ou de não as orientar!
Não façam críticas nem digam nada, pois quero revelar mais alguma coisa. Quando ela não está na oração comunitária, é exatamente nesta hora que mostra que está rezando; quando vocês a virem muito aflita, procurando aprender dos que não têm sabedoria, é porque quer mostrar que é simples e ignorante; quando virem o bom gosto da arrumação do quarto dela, é que deseja passar por ridícula e porque quer ser tratada como quem não entende das coisas e não quer parecer que já tem o consolo do Cristo Crucificado ou mesmo as instruções do apóstolo Paulo. Com a mesma palavra ressuscita e mata, com as mesmas maneiras, acaricia e estraga (Dt.32,39).
Vou ficando por aqui. Quem quiser observá-la nas suas ações, certamente encontrará nela a figura de Saulo, mas Barnabé dará testemunho de que ela não é o que parece, nem o que era antes.
Querida irmã, desejaria dizer algo mais; entretanto, não queria que você ficasse de mal comigo. Você, porém, dirá o resto para as outras.
Só vou falar mais o seguinte; diga às Angélicas que não usem, nem tomem a liberdade de fazer estas mesmas coisas, pois eu garanto que, nelas, o resultado seria o contrário do que acontece nela. Por isso, em vez de crescer na perfeição, elas cairiam, talvez, no inferno do pior relaxamento.
Portanto, não lhes convém a conversa fiada: o que convém, isso sim, é observar o silêncio que lhes foi pedido. Não lhes fica bem trabalhar, falar ou pensar, sem um controle interior e exterior.
E assim, o fato de não terem o controle de suas vontades, as levaria ao desleixo, pois elas ainda estão longe do ideal. Terem um cargo, seria motivo de presunção; saber muitas coisas, motivo de orgulho; a distração as tornaria relaxadas; o não mortificar a própria vontade, mesmo nas coisas boas, as tornaria grosseiras e as afastaria totalmente dos ideais de São Paulo e de sua vida.
Reflitam e vejam o mal que é para elas desejar comodidades; embriagar-se - não de vinhos finos- e saciar-se - não de comidas requintadas - mas de consolações espirituais e se alimentarem, mesmo que só um pouco, com a auto-satisfação: se não forem cegas, elas verão o mal que estas coisas fazem.
Diga-lhes, portanto, que o Apóstolo Paulo lhes apresenta um Cristo Crucificado em todos os sentidos, não só Ele Crucificado, mas também crucificado nelas; e insista para que assimilem bem esta idéia. E se são tão ignorantes, a ponto de não entendê-la bem, diga à Mestra, irmã Paula, que lhes explique tudo isso, pois o fervor e a capacidade de expressão que ela tem, substituirão tudo o que eu quis, dizer.
É só isso, minha irmã!
Seu pai e filho.
Padre Antônio Maria.


Décima Carta
AO PADRE BATISTA SORESINA (II)
11 de junho de 1539
Ao Nosso Cordial Filho, Sr. Batista Soresina
Meu caro filho em Cristo, saudações.
Como recebi uma carta sua, não posso deixar de saudá-lo e de escrever-lhe umas palavrinhas.
Meu desejo foi sempre o de vê-lo progredir sem parar. E, se por acaso, ficar claro que você não está seguindo as minhas orientações, mesmo que se comportasse assim por ignorância, por falta de atenção e não por maldade, isso teria sido, para mim, como uma facada no coração. Fica pior ainda, se fosse uma falta contra outras pessoas, porque as imperfeições praticadas contra os outros doem mais do que se fossem contra mim: a mesma coisa é a alegria que tenho por causa dos gestos concretos praticados em favor dos outros: ela é muito maior do que se esses gestos fossem feitos em meu favor. Isso mostra que há, em você, grandes valores e que você os vive por causa de uma obediência consciente, mantendo sempre o mesmo fervor, quer eu esteja presente ou não, na frente dos outros e dos padres também.
Que alegria para São Paulo quando afirmava que os cristãos de Corinto tinham visto que era tudo verdade o que ele dissera a Timóteo e a Tito (2Cor.7,13-14).
Por isso, se os outros considerarem vocês como pessoas simples, fervorosas, preocupadas com o crescimento do próximo, não assustadas com a violência das paixões ou das tentações, mas conservando sempre uma firme vivência dos valores, nos momentos difíceis e nos tranquilos e consoladores; se encontrarem vocês tal qual eu os descrevi e do jeito que eu desejo, acreditem: isso me encherá de muita alegria! Mas, se fizerem o contrário, irão causar-me aflição e morte!
Quero dizer-lhe mais uma coisa, prezado Pe. Batista. Soube que você não tem, com Pe. Superior (Tiago Antônio Morigia), a mesma simplicidade de atitudes que tem comigo e isso me encheu de tristeza, pois se comporta diante dele de maneira fingida. Isso me atravessou o coração! E teria sofrido muito mais, se tivesse acreditado em tudo o que ouvi.
Que coisa! Sua falta seria muito grave, se isso tudo fosse verdade! Se você tiver mesmo esta falha quem mais eu poderia elogiar, pois eu o considero como aquele cujas atitudes devem trazer-me grande alegria! Pobre de mim, se todos os meus filhos têm tão pouca preocupação em alegrar-me; teria sido melhor nunca tê-los gerado, para depois se desviarem!
Dionísio, o que você estava fazendo? E você, Timóteo, e você, Tito, qual era o seu comportamento em relação a Paulo? Vocês conservavam o amor e a presença de seu pai sempre em vocês e não tinham outra preocupação, a não ser fazê-lo feliz. Coitado de mim, pois isso não acontece comigo!
Eu até aceitaria que outro me enganasse, mas você, Pe. Batista, a quem eu confiei todo meu tesouro, se você fizer isso, seria duro demais para mim! Eu lhe digo com toda firmeza diante de Cristo que, se você quiser, pode fazer-me viver feliz, dando-me esta alegria: que eu o veja comportar-se de maneira leal e simples para com todos. O que você vai ganhar fazendo-me sofrer? Que vantagem vai levar, prejudicando a si mesmo e causando-me tristeza? O que ganhará, atrasando seu caminho para a perfeição? Se quiser agradar-me e me ver sempre presente nos outros, eu lhe garanto que Cristo Crucificado o levará a tal grau de perfeição, que você despertará uma santa inveja nos filhos de São Paulo.
Se, daqui pra frente, eu não perceber mudanças em você e se você não se comportar deste modo, isto é: que sempre veja a mim, ao ver os outros superiores: que sempre veja em mim e nos meus semelhantes o Cristo Jesus Pastor de sua alma em pessoa: que você procure proceder de um modo autêntico e simples, vivendo os valores diante de mim e deles, como faria diante de Cristo Jesus: se você não fizer isso, não ficarei satisfeito com você e pedirei ao Crucificado que me tire deste mundo, para que você não me traga tanta angústia! Se, de agora em diante, você falhar novamente, fará com que eu acredite em tudo o que se passou; e, pelo passado, pelo presente e pelo futuro, terei que pensar que Jesus Cristo quer que eu morra, tendo filhos tão degenerados e pouco legítimos! Agora chega! Tenho a certeza de que, mesmo tendo errado por malícia, você não errará mais e será leal e simples com o Pe. Tiago Antônio Morigia e com os outros. E isso eu lhe peço, porque de você e dos outros juntos depende toda a minha felicidade.
Seja submisso a todos e não deixe de crescer sempre por meio dos outros. Evite o isolamento, se você quiser que eu considere a sua humildade como caridade e como obediência para comigo e não como certa dose de rebeldia interior.
Recomendações ao Sr. Dionísio, ao fiel João Tiago, ao humilde Sr. Francisco Crippa, ao sofredor João Antônio Berna, aos meus cordeais amigos João Antônio Dati e Tomás Tati, ao incansável Sr. Camilo Negri e... ao agitado Ulderico e ao simples Sr. Conrado Bobbia. Dê também as minhas lembranças aos Srs. Felipe, Janico, Modesto e senhora, Bernardo Omodei e filhos, ao sobrinho do João Antônio Berna e aos Srs. Baltazar Medici e João Pedro Besozzi e a todos os outros.
E, em meu nome, peça a bênção a todos os padres, de modo especial ao Pe. Superior Tiago Antônio Morigia e ao Pe. Bartolomeu Ferrari, aos quais não escrevo, porque Cristo escreverá em seus corações, nem lhes recomendo coisa alguma, porque tudo está sobre os ombros deles. Que Cristo me conceda a graça de encontrar, em você, a minha satisfação.
Seu pai em Cristo.
Padre Antônio Maria.