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O jovem e a globalização

 Estes dois elementos tão presentes mas mal entendidos e interpretados deveriam ser mais bem compreendidos pela sociedade da qual fazemos parte. A juventude, segmento que fervilha e emerge nos dias de hoje, busca cada vez mais o seu espaço. Transformada em algo invisível ao longo dos séculos e menosprezada ao longo da história, essas juventudes de diversos tempos históricos vêm protagonizando, mesmo sob um controle patriarcal, a sua própria história. Rômulo e Remo, Alexandre o grande, Joana D'Arc, Aquiles, são alguns dos milhares de jovens que deixaram sua marca na humanidade. Porém nunca foram olhados como jovens. As lutas, as conquistas, as histórias, os ideais e acima de tudo a garra e a força bem características e próprias desse segmento etário estiveram sempre presentes.

  Considerar este público dentro de um processo de globalização é muito importante para se interpretar as mazelas sócio-econômica e política que vivem nos dias de hoje e entender o que está acontecendo com o protagonismo que esteve por muito tempo presente e que agora parece estar adormecido nos jovens e nas jovens que não mais têm interesse em protagonizar sua própria história.
“A globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada.” Milton Santos (Por uma outra globalização)

   Dentro dessa perspectiva, pensar as atitudes, escolhas e comportamentos tidos por grande parte dos jovens e que direta ou indiretamente, são influenciados pelo modelo capitalista de consumo imposto ou reforçado por este processo de globalização é muito importante para conceituarmos tais comportamentos a fim de não perpetuarmos a estereotipagem desse segmento que tanto sofre com a marginalização e criminalização que surge em seu detrimento através das diversas caricaturas que lhes são impostas. Essa globalização que aparenta ser uma fábula, criando um mundo imaginário repleto de realizações fazendo com que problemas sociais, tais como: a pobreza, desemprego, educação de má qualidade, falta de moradia, e muitos outros, sejam esquecidos mesmo que momentaneamente, criando uma sensação paradisíaca de uma ordem inexistente. 

  Tal sensação atinge somente aqueles que têm melhores condições financeiras, pois a maior parte da população, pouco mais de 46 milhões de pessoas pobres não têm o “direito” de também senti-lo. Sobre isso recordo-me do documentário de Milton Santos que trata sobre a globalização perversa, tal como ele mesmo, Milton Santos, a define. “O Brasil jamais teve cidadãos, nós, a classe média, não queremos direitos, nós queremos privilégios e os pobres não têm direitos, não há, pois, cidadania neste país, nunca houve.” Diante disso, considerando que quase 50% da população brasileira está compreendida entre os 15 e os 29 anos de idade, vitimas da história, vitimas da cultura, vítimas da política corrompida, vitimas da desordem econômica instaurada pelo sistema capitalista, o que resta aos jovens brasileiros e globais?

   Outro grande fator agravante desses problemas é a falsa democracia. Esta que acreditamos fazer parte do nosso dia-a-dia, das nossas relações, simplesmente não existe. Segundo José Salamago:
“A democracia está aí, como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas de quem está aí como uma referência. Uma referência é a democracia. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada. Porque o poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera pública, a tirar um governo de que não gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera e todos sabemos qual é. 
  As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais, tudo isso. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como é que podemos falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Os povos? Não. Donde está então a democracia?”
  Diante de tudo isso, pensar a globalização como um constante progresso que se coloca a disposição dos povos e a favor deles é uma ilusão reforçada pelos grandes meios de comunicação a fim de nos fazer crer que este processo que vivenciamos é o caminho para a inclusão, diminuição da pobreza e das desigualdades. Ver o mundo global como Milton Santos nos apresenta: O mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula, é o caminho para que, através de uma análise crítica e profunda, possamos perceber as desordens instauradas por esta falsa ordem social a qual nos é apresentada a fim de identificarmos O mundo como é: a globalização como perversidade para que possamos “enxergá-la” com o intuito de buscar alternativas com um único objetivo que deveria ser um objetivo em comum, o de ver e lutar por outro mundo, O mundo como pode ser: uma outra globalização.
  Por fim, perceber o tão sonhado e já vivido protagonismo juvenil que se fez e se faz presente na história como a chave para a solução dos problemas sócio-políticos, econômicos e ambientais de nossa sociedade moderna como nossas características próprias. É através dessa vontade, garra, força, dinamicidade e sobretudo esperança, que nós, jovens, brasileiros, filhos e filhas de uma história poderemos dar um outro desfecho às histórias futuras de nossas futuras gerações. Depositar a responsabilidade de toda essa mudança na juventude, como a sociedade faz, pode parecer uma injustiça. Acreditam encontrar nesta jovialidade já vivida por "eles" a tão sonhada mudança, pois creem que nossas qualidades podem mudar toda essa realidade e realmente acertam quando crêem nisso. Nós somos a face do Criador. É como diz a música:

O rosto de Deus é jovem também
E o sonho mais lindo é ele quem tem
Deus não envelhece, tampouco morreu
Continua vivo no povo que é seu
Se a juventude viesse a faltar
O rosto de Deus iria mudar
O mesmo rosto - Jorge Trevissol

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